O livro “1984” – último romance de George Orwell – foi escrito em 1949. Para o autor, seriam necessários 35 anos para que alguns dos mecanismos do controle e da manipulação da informação e dos recursos tecnológicos visualizados naquela época se transformassem em realidade. Se ele acertou em uns aspectos, errou longe noutros. O autor vislumbrava um futuro aterrorizante, com grande parte da população sem acesso à informação.
Mas, o que se verifica nos dias atuais está distante dessa conjectura. Devido à velocidade com que ocorrem as transformações, é difícil imaginar o que acontecerá daqui a 35 anos, pois as possibilidades são infinitas.
Desse modo, correndo-se o risco de errar tal como Orwell, podem-se levantar algumas perspectivas para anos vindouros.
Os grandes desafios que surgem da nova sociedade, a começar pela difícil tarefa de descobrir como manter a popularização dos meios de comunicação e suas constantes inovações tecnológicas, podem aproximar pessoas de audiências distintas fazendo uso de diversas linguagens. Com a evolução da Internet e da tecnologia, o público, que até então só consumia a notícia, pode agora produzir o seu próprio conteúdo.
As informações são voláteis, possuem pouca durabilidade, sendo rapidamente superadas, o que exige maior dinamismo na produção do conhecimento. A partir do advento da Internet, os paradigmas da comunicação sofreram se não uma ruptura, um abalo profundo nos seus fundamentos. O modelo simplificado “emissor – mensagem – receptor” ganhou complexidade: a de que todos podem ser potenciais emissores. A mensagem tornou-se mais veloz em um mar de informações, que chega a números impressionantes, como as 300 horas de conteúdo disponibilizado por minuto no YouTube.
As oportunidades de toda essa conexão e comunicação cada vez mais rápida e com maior abrangência exigem agilidade e preparo. A lentidão e o despreparo oferecem a outra face: a ameaça. Porém, qual a estratégia para enfrentar um cenário desses?
Nem sempre a empresa maior derrota a menor, e sim a mais rápida vence a mais lenta. A velocidade é cada vez mais importante também na manutenção da credibilidade e no fortalecimento da imagem das organizações.
Então, respondendo à pergunta, o preparo para esse cenário é ter, além do conhecimento técnico, estruturas capazes de responder às demandas em pouco tempo, evitando que uma exposição negativa perdure. Quanto mais permanecer em evidência, maior será o dano à imagem.
Um vídeo gravado por celular pode atingir milhares (ou milhões) de pessoas em poucos minutos, não sendo possível controlá-lo. Porém, o que aparecerá nas imagens? Pode ser um militar ajudando uma senhora a atravessar a rua ou usando uma viatura para descarregar lixo em área de preservação ambiental.
Se o vídeo, que ganhará milhares de visualizações no YouTube, for o da primeira opção, ótimo! Caso seja o da segunda, a resposta terá que ser rápida. Respondendo ou posicionando-se da forma certa – e aí não se trata somente de comunicação –, a resposta deve ter atitude compatível com os valores da Instituição. O erro, que poderia ser uma ameaça, transforma-se em oportunidade para que se reforcem as mensagens e se ganhe ainda mais credibilidade.
Outra questão a ser abordada encontra-se na decadência de valores ou na valorização de novas convicções sociais. Os últimos anos têm demonstrado a falta de credibilidade de diversas instituições governamentais, fazendo com que a sociedade busque aquelas que comprovam correção, tradição, valores éticos e morais. Assim sendo, essa pode ser uma janela de oportunidades para o Exército, que é, reconhecidamente, a Instituição que representa, com naturalidade, essas necessidades.
Há, em andamento, luta silenciosa e desigual nos bastidores da comunicação entre a valorização daquilo que as pessoas de bem consideram “correto” e as forças obscuras que cultuam o “errado”. As Forças Armadas e, em especial, o Exército Brasileiro, são as instituições que mais têm atendido às diversificadas demandas da sociedade, até aquelas intangíveis e apenas no imaginário dos cidadãos. As crescentes correntes de pedido de participação em assuntos que, muitas vezes, não são missões constitucionais, demonstram a elevada confiabilidade da população nas três Forças, situação comprovada por pesquisas de opinião.
Por fim, esses dois fatores – a dinâmica provocada pelas inovações tecnológicas e as mudanças culturais e de valores – vão motivar ajustes ou correções de rumo da comunicação social.
Estejamos preparados! A guerra sequer começou.
Autor: Gen Div Otávio Santana do Rêgo Barros
Agência Verde-Oliva / Exército Brasileiro