A centenária Medicina Veterinária Militar no Brasil surgiu como iniciativa de inovação do Ministério da Guerra, diante da necessidade de enfrentar crises sanitárias que atingiam os soldados, os rebanhos produtores de alimento e, principalmente, os cavalos, grande força de transporte militar do início do século XX. Hoje, a Medicina Veterinária está na base da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, pilar fundamental da economia nacional.
Nas Forças Armadas e Polícias Militares, os veterinários militares cuidam da tarefa mais conhecida dessa especialidade – a manutenção da sanidade dos plantéis de equinos e cães militares. No Exército Brasileiro, os cerca de 200 veterinários desempenham missões estratégicas, além de zelar pela saúde dos dois mil equinos e 200 cães de guerra. Em média, são os responsáveis pelo controle de zoonoses, pragas e vetores nos quartéis e pela inspeção sanitária de toda a alimentação consumida pelos mais de 200 mil militares, empregando 18 laboratórios, realizando auditorias nas mais de 400 cozinhas e acompanhando a tropa em operações no Brasil e no exterior, como ocorreu na missão de paz da ONU no Haiti.
O Dia da Veterinária Militar é comemorado pelo Exército Brasileiro em 17 de junho, data correspondente ao nascimento do seu patrono, o Tenente-Coronel Médico João Muniz Barreto de Aragão, precursor do estudo da Medicina Veterinária no Brasil. Muniz de Aragão nasceu em 17 de junho de 1874, em Santo Amaro, Província da Bahia. Formou-se em medicina e, ainda durante a graduação, voluntariou-se para compor a equipe médica das operações militares em Canudos, em 1897, destacando-se pelo dedicado trabalho e acentuado espírito de solidariedade. Em 1901, passou a integrar o Corpo de Saúde do Exército, sendo lembrado por seu legado na pesquisa biomédica e empenho no combate às doenças que assolavam os animais, como a febre aftosa e as zoonoses mormo e tuberculose.
O Serviço de Veterinária do Exército foi criado em 1908 e a Escola de Veterinária do Exército foi fundada em 17 de julho de 1914, graças ao apoio da Missão Militar Francesa, requisitada pelo governo brasileiro ao Instituto Pauster, na França. O então Capitão Médico Muniz de Aragão foi o primeiro diretor da Escola, instalada no quartel do 3º Grupo de Obuses, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, formando a primeira turma em 1917.
Muniz de Aragão participou de várias comissões, entre elas, a que organizou o Serviço de Defesa Sanitária Animal e de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura e aquela que instituiu a Profilaxia dos Quartéis. Foi fundador da Sociedade Médico-Cirúrgica Militar e nomeado Inspetor do Serviço de Veterinária do Exército. Sua história, exemplar, terminou de forma precoce, aos 48 anos de idade, quando faleceu de síncope cardíaca, em 16 de janeiro de 1922. Seus feitos e ideais permanecem gravados na história da Medicina Veterinária e do Exército Brasileiro.
Em 13 de março de 1975, fruto das transformações doutrinárias, da mecanização da cavalaria e da consequente e drástica redução dos efetivos hipomóveis, a Escola de Veterinária do Exército foi extinta. Porém, a partir de 17 de junho de 1991, a especialidade veterinária voltou a integrar os quadros do Exército Brasileiro, por meio do Quadro Complementar de Oficiais. Em 1992, formou-se, na Escola de Administração do Exército, atual Escola de Formação Complementar do Exército, a primeira turma de veterinários militares da nova geração, dos quais seis oficiais chegaram ao último posto da carreira – Coronel – em 2017, momento marcante da evolução recente da área.
A Veterinária Militar promove assessoria técnica essencial em várias áreas do emprego da Força. Seus integrantes realizam o aprimoramento zootécnico dos animais de interesse do Exército; prestam assistência na clínica médica e cirúrgica de equinos e cães de guerra; fazem a inspeção de alimentos e forragens; atuam na eliminação de agentes infecciosos e na pesquisa e produção de soros e vacinas; trabalham nas práticas de biossegurança; executam o controle de qualidade da água, das pragas, dos vetores e das zoonoses; cuidam do meio ambiente e das espécies silvestres. Todas essas funções colaboram para a preservação do potencial humano da Instituição.
Assim, os médicos veterinários do Exército, inspirados nos exemplos e ideais de Muniz de Aragão, reafirmam o orgulho de integrar os quadros do Exército Brasileiro e renovam o compromisso de continuar trabalhando e aplicando seus conhecimentos para a manutenção da saúde dos recursos humanos e animais da tropa. Além disso, orgulham-se de contribuir para a defesa e o desenvolvimento nacional, sob os auspícios do novo paradigma da “Saúde Única”, que preserva a sustentabilidade dos padrões sanitários do meio ambiente, dos animais e humanos.
Autor: Tenente-Coronel José Roberto Pinho de Andrade Lima
Agência Verde-Oliva/Exército Brasileiro