Brasília/DF – Dois brigadistas do Ibama percorreram 34 km a pé, ida e volta, para salvar um lavrador picado por uma cobra surucucu-pico-de-jaca, no município do Careiro, cidade localizada a 123 km de Manaus (AM).
Fato – Uma equipe do Prevfogo, que está na região trabalhando no combate aos incêndios florestais na região, foi acionada pela Secretaria Municipal de Saúde na manhã da segunda-feira (30) para ajudar no resgate do lavrador.
O local é de difícil acesso, mesmo com o uso de aeronaves. Quando partiram para o salvamento, os dois brigadistas e outros dois moradores locais estavam na base do município de Manaquiri – um dos setores da Operação Amazonas 2023.
Salvamento – Os dois brigadistas são Jeffite Cordeiro Ambrósio e José Augusto Antunes. Ambos são técnicos em enfermagem e prestaram os primeiros socorros ao lavrador Cícero José de Oliveira. Eles entraram na mata nativa e densa às 11h40, mas só encontraram Cícero seis horas depois, após caminharem 17 km.
O lavrador aguardou pelo salvamento por quatro dias. Foi no fim da manhã de 26 de outubro, às margens do rio Juma, que a serpente cruzou o caminho dele e de outras duas pessoas. Cícero fazia a medição de um terreno. A cobra, uma surucucu-pico-de-jaca, é considerada pelo Instituto Butantan a maior serpente peçonhenta das Américas.
“Antes de sair da base, pesquisei na internet sobre a cobra. Sabia que se tratava de um animal venenoso e cuja picada causa dor extrema. Na ida, dizia para os companheiros manterem a calma e seguir a linha de raciocínio de que tudo daria certo. Ao encontrá-lo, perguntei: numa escala de zero a dez, qual a intensidade da dor? Ele respondeu: nove”, conta Ambrósio.
Rapidamente, ele e José Augusto aplicaram o soro antiofídico. Os três e o restante do grupo deixaram o local do resgate no alvorecer da terça-feira (31). Pouco antes do meio-dia, após cinco horas de caminhada, os três conseguiram chegar a Careiro, onde Cícero – carregado numa rede – foi hospitalizado. Ele está fora de risco de morte.
“Um brigadista em combate chega a andar, em média, entre oito e 10 km por dia, são pessoas de certa rusticidade”, atesta o comandante de Incidentes da Operação Amazonas 2023, Kurtis François Teixeira Bastos.
O lavrador Cícero José de Oliveira tem 43 anos, três filhas e é lavrador. Possui uma pequena propriedade no município de Careiro e estava encerrando o trabalho e retornando para a casa na tarde do dia 26 quando levou a picada.
“Saiu muito sangue. Achei que a situação poderia piorar, então eu e os dois que estavam comigo corremos em direção a estrada por mais ou menos mil metros. Mas a perna travou, foi quando o indígena que estava com a gente foi pedir a ajuda. A gente ainda tinha comida, mas no domingo ficamos por conta de palmito. Na segunda-feira a gente já estava sem água”, recorda o lavrador.
De acordo com o Instituto Butantan, a surucucu ou surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) possui cor alaranjada contrastando com as manchas escuras ao longo de seu dorso. Ela pode ser considerada a maior serpente peçonhenta das Américas e a segunda maior do mundo, atrás apenas da cobra-rei (Ophiophagus hannah).
Pode alcançar mais de 3 metros de comprimento e tem, no fim da cauda, escamas arrepiadas. As escamas de seu corpo são semelhantes à casca de uma jaca – daí o nome popular da espécie. É a única serpente do gênero Lachesis presente no Brasil, e pode ser encontrada em grande parte nos estados do Amapá, Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Ceará e Rio de Janeiro.
Fonte: Assessoria de Comunicação do Ibama